segunda-feira, 27 de abril de 2015



FAMÍLIA
Dentre os desejos existentes no coração humano, um dos mais fortes é o de viver em pleno estado de amor. Amar e ser amado parece ser a maior ambição do ser humano e, por isso mesmo, a maior fonte de suas frustrações. Infelizmente, muitas pessoas vivem em um estado permanente de miséria afetiva, na solidão, com casamentos e com relações superficiais, insensíveis, sem nenhum envolvimento profundo.
            Por outro lado, as pessoas não podem realizar-se pertencendo apenas à comunidade de interesse comerciais, políticas. Elas necessitam de uma comunidade onde possam revelar-se como são, valorizar-se com seus limites estabelecendo conhecimentos próximos. A família é a primeira e permanente escola para a vida em comunidade. Nela a pessoa nasce, cresce, amadurece, faz seu aprendizado de interação, de cooperação e partilha, dando continuidade ao seu aprendizado, formando
sua própria família. É uma comunidade formadora, recebendo de Deus a missão para constituir-se célula vital e primária da sociedade.
                                      “A família é comunidade de amor. É escola de vida com outros homens e precisa exercer influência na sociedade inteira. Realmente, é na família que o homem começa a compreender que é um ser social e elabora estratégias para um viver cristão e humano com outras pessoas”.[1]
            Portanto, escola por excelência, a família é a escola da vida e da prática da aceitação do outro, espaço onde o ser humano se encontra como indivíduo. É uma comunidade de vida e amor. Porém, necessita exercer uma influência marcante na sociedade já que nos tempos de hoje, tem sido questionada por profundas transformações da sociedade e na cultura, onde a perda do sentido da vida humana é constante, as pessoas valem não por aquilo que são, mas por aquilo que possuem. O importante é ter, fazer, produzir e consumir, infelizmente, um mal social moderno.
            A família passa hoje por grandes alterações em sua estrutura. No plano material, nota-se que ela perdeu sua estabilidade que estava baseada na casa, passando de geração a geração. Hoje, a família explodiu dispersando seus membros. No plano econômico, a família não assume mais o caráter de uma unidade produtiva, onde gerar muitos filhos era de suma importância na geração de riqueza, transformando-se em uma unidade de consumo, reduzindo o número de filhos. No plano psicológico, o casamento e a família, passaram a ser entendidos muitas vezes como sinônimos de escravidão, pois, não possibilitam a mulher uma chance de liberdade. No plano social, a família está mais dependente do Estado. No plano religioso, a instituição familiar está perdendo seu aspecto religioso e sagrado.
     “O estudo da família não pode ocorrer sem uma compreensão dos movimentos históricos, culturais, econômicos etc, que são inerentes aos processos humanos. A abordagem inter - disciplinar, a sociologia, a psicologia, a política, a economia, a religião, etc, podem enriquecer a compreensão de como se dá a estrutura familiar, suas diferentes formas de acontecer e as influências do contexto que está inserida”.[2]
            Além disso, nos tempos modernos, é crescente o número de famílias que não podem sobreviver com dignidade e ficam impedidas de cumprir seu papel social. Vive-se hoje num contexto onde cresce a visão da interdependência das pessoas para a realização do bem comum. Mesmo assim, diminui a proximidade entre grandes parcelas da população, decrescendo desta forma, a comunhão e a capacidade de relacionamento comunitário, aumentando o individualismo e a insensibilidade. Também, é possível notar um grande vazio e insatisfações nas realizações das pessoas independentes e auto-suficientes, que se encontram só, mesmo quando rodeadas de amigos, instaurando a cultura do descompromisso, do “descartável”.
            A cultura dominante nos meios de comunicação serve a outros interesses, promovendo o reducionismo, o materialismo e o secularismo, controlando os valores éticos/cristãos e a família. Assim, os relacionamentos tendem a ser superficiais, passageiros e de interesses próprios, tornando as pessoas objetos e não sujeitos de sua existência.
            Apesar de um crescente desenvolvimento técnico científico, que proporciona recursos para uma vida de progresso, é frustrante a realidade em que vive grande parcela da população, sem condições de sobrevivência e de dignidade, não podendo realizar seus direitos fundamentais. Numa observação mais atenta, percebe-se que as pessoas “socialmente privilegiadas” são escravas da luta pelo poder do possuir, do consumir, vivem sem experimentar a realização pessoal e interior, no vazio, com ansiedades e tensões.
            Outras transformações de grande relevância estão presentes nos dias de hoje: de um modo geral, a sociedade, e não mais a família, fornece ao indivíduo o trabalho profissional e sua identidade social. Até a educação foi assumida, em boa porcentagem, pela sociedade, os filhos escapam mais cedo da tutela dos pais. A família moderna tornou-se nuclear ou conjugal, sendo constituída pelo casal e pelos filhos menores, a hierarquia das idades e dos sexos estão se alterando com constância, restringindo-se desta maneira, a autoridade paterna. Hoje, a livre escolha do parceiro é um traço marcante da transformação da família. Nas diversas camadas sociais, a família tem o impacto direto da pornografia, alcoolismo, drogas, prostituição, da infidelidade conjugal, apresentando-se como vítima de uma estrutura injusta, não possuindo mais um caráter uniforme.
“A situação das famílias é também caracterizada por problemas sociais de natureza diversas, tais como atentados freqüentes aos direitos humanos, exploração e abuso, barreiras econômicas, sociais e culturais ao desenvolvimento integral de seus membros”.[3]
            A partir dos pressupostos apresentados até aqui, concluí-se que a instituição familiar tem passado por momentos de instabilidade, conflitos e crises. Vários aspectos têm contribuído para este quadro. Entre eles, pode-se destacar os seguintes: o relacionamento entre seus integrantes é vivenciado de forma e mentalidade utilitarista, o consumismo introduziu o primado do trabalho e do lucro em detrimento do diálogo, a evolução da família patriarcal para a família celular trouxe solidão e insegurança, a mídia tem bombardeado o núcleo familiar, já fragilizado, com mensagens banais, consumistas e desagregadoras, a cultura urbana leva ao desinteresse recíproco dos indivíduos e da família.
            Torna-se necessário, portanto, que se crie mecanismos de defesa, apoiados não só na cultura , mas também nos meios econômicos e legislativos, afim de salvaguardar a família das ameaças que ela vem sofrendo contra a deformação de sua missão pelos meios de comunicação social, pelo consumismo desenfreado e por legislações incoerentes e injustas. Levar as famílias a se inserirem no campo político, promovendo os seus verdadeiros valores. Tornando-a deste modo, uma comunidade de diálogo e de humanidade, onde haja respeito, confiança, sinceridade no estar junto e na co-responsabilidade, propiciando plena liberdade para a manifestação do amor, seja ele conjugal, paterno, materno, filial ou fraterno. Uma política que favoreça e promova as famílias das classes excluídas e menos favorecidas, particularmente, nas áreas de habitação, emprego, previdência, saúde e educação, e desenvolver canais que possam estimular a participação das famílias no campo político, visando a promoção e a defesa de seus direitos e valores.


[1] CNBB. Casamento e Família no Mundo de Hoje. Petrópolis, Vozes, 1993, pág. 46. O termo “homem” no texto, no meu entender, refere-se ao ser humano total.
[2] ROSA Ronaldo Sathler & CASTRO Dagmar Silva Pinto de. Compreendendo o que é Família. São Paulo, Editeo, 1995, pág. 9
[3] UNICEF. Família Brasileira: a base de tudo.  São Paulo, Cortez, 1994, pág. 12.

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