Ao longo do
período medieval, o processo de organização da Igreja Católica determinou a
formação de uma complexa hierarquia normatizadora das atribuições delegadas a
cada um dos membros de tal instituição. A criação das ordens religiosas
determinava a formação de um clero que tinha como função primordial estabelecer
o espalhamento do cristianismo em todo o continente europeu.
Nesse processo, a Igreja acabou por ocupar não só a posição
de mais importante e influente instituição dos tempos medievais. A formação
oferecida pelos membros do clero traçava um enorme contraste junto a uma
população que, em sua maioria, vivia no ambiente rural e estava afastada do
universo letrado. Por serem os poucos a terem acesso à leitura e a escrita, os
padres, monges, bispos e cardeais da Igreja passaram também a ocupar o lugar da
elite intelectual daqueles tempos.
Uma grande parte das concepções e explicações oferecidas à
população era fruto daquilo que os membros da Igreja determinavam como sendo
verdadeiro. Os dogmas ou as tais “verdades eternas” eram abraçados pelos fieis
na condição de uma explicação segura sob os mais diversos aspectos da vida.
Toda vez que uma nova questão aparecia, os clérigos de maior expressão se
reuniam nos chamados concílios.
Nessa situação, o poder e o respaldo da Igreja se alargaram a
tal ponto que os membros desta passaram a discutir questões, no mínimo,
estranhas. No século XV, por exemplo, uma reunião de autoridades clericais
acontecia na cidade de Constantinopla. Enquanto debatiam diversos temas de
ordem teológica e religiosa, os turco-otomanos empreenderam os violentos
ataques que determinaram a perda daqueles territórios controlados por reinos
cristãos.
Em uma situação destas, muitos poderiam imaginar que os
clérigos estavam ali enclausurados para decidir questões de grande urgência e
relevância. Contudo, os documentos da época revelaram que, entre outras coisas,
os religiosos ali presentes discutiam se os anjos tinham ou não tinham um sexo.
Ao fim do embate, ninguém conseguiu chegar a uma conclusão segura. Não por
acaso, a expressão “discutir o sexo dos anjos” ainda é bastante empregada para
definir aquelas discussões que parecem nunca chegar a um fim!
“Sexo
dos anjos é uma referência a debates teológicos que ocorriam em Constantinopla,
inclusive nos momentos que precederam a sua queda diante dos turcos otomanos. A
expressão discutir o sexo dos anjos ganhou o significado de perder tempo
discutindo um assunto absolutamente inútil e impossível de ser determinado,
quando existem problemas mais importantes.”
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